quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Astronauta



"A cada dia que passa o astronauta fica um pouco mais distante da terra. A imagem do oceano, das florestas, as luzes das cidades, tudo um pouco mais embassado. Uma memoria distante que se distancia cada vez mais. No reflexo do seu capacete ele ve uma sombra do que foi uma pessoa. Se distancia da humanidade, da gente. Ele olha pra traz e so ve a bola azul diminuindo, pensa sorrindo, no que esta acontecendo la. Ele sente saudades da terra.  Aqui no espaco so ha frio e vacuo. Nao ha ar que suspire palavras de carinho. No espaco esta envolto em frio, escuridao o cerca. E excitante no comeco, tudo vai bem. Voce ate se sente aliviado por estar longe da loucura. Mas tudo muda ao perceber que esta indo embora. Sera que da pra voltar?
O astronauta nao esta mais sorrindo ao ver a bola azul diminuindo. Ele queria saber nadar, voar pelo espaco na direcao daquela estrela de oxigenio. Ele nao se desespera, sabe que as coisas tem o seu jeito e por mais estranho e errado que pareca ele chegou aonde esta devido a esta estrada e nao pretende parar de segui-la. As coisas se endireitam, a vida se acerta. O astronauta quer um casaco pra combater o frio, é o primeiro dia de neve no espaco. Ele se sente sozinho. Tenta ligar pra terra.
Alguem esta escutando? Alguem pode me ouvir? Parece que a terra esta distante de mais pra responder. Ele lembra em como suas comunicacoes com a terra vem diminuindo com o passar dos meses. A bola azul esta tao pequena que mal consegue aperta-la entre o indicador e o polegar, como se quissese pega-la e expandi-la. Ele so queria ver as suas linhas denovo, lembrar dos oceanos e das montanhas. Lembrar como é um por do sol. Como é sentir a agua do mar. O gosto salgado. O astronauta nao recebe resposta da terra. Ela desapareceu. Ele nao enxerga mais  reflexo no seu capacete. Nao ha bandeira, nao ha cor. Qual é a patria do astronauta sem planeta?
Todos precisam ter uma casa, um lugar pra chamar de lar. O astronauta esta sozinho. Ele e o frio. O pior companheiro que qualquer astronauta podia ter naqueles tempos. Seus olhos se derretem procurando por um ponto azul no quadro negro. Nada que o faca lembrar. Nada mais que se possa enxergar. O astronauta esta morto em uma vazio silencioso e gelado aonde ninguem escuta os gritos e as cancoes do astronauta. Morreu cedo demais pra se virar e ver. Tao agitado, viciado olhando pro vazio escuro. O astronauta nao pode perceber que havia chegado a lua."